nº 48 ano 13 | Março 2022
Ensaio

A estação Peñón Viejo e as trajetórias que desenham a Cidade do México

Por Gabriela Pecantet Siqueira

A Cidade do México, MX, é uma megalópole com mais de 20 milhões de habitantes. Uma cidade constituída por um intenso movimento, de vai e vens constantes de pessoas que se deslocam a pé, de motocicleta, de ônibus, de carro, de kombi, de metrobus, de metrô, e tantos outros meios de transporte. Vivi nessa cidade por 38 dias — de 17 de julho a 24 de agosto de 2019 —, e a forma com que mais me desloquei foi de metrô.

No curto trecho que eu fazia a pé, de segunda a sexta-feira, de onde morava até a estação mais próxima, observava as várias pessoas que passavam por mim, se deslocando na mesma direção, rumo à estação Peñón Viejo. Ao dobrar na rua Marcos López Jiménez, em meio às barracas de venda de comida de rua montadas, algumas ainda sendo erguidas, enxergava ao longe a estação, as escadas de metal amarelas, a ponte que sobrepunha a Autopista México–Puebla, a placa com um peñón.

A estação Peñón Viejo tem como ícone um peñón, que representa o Cerro de la Ciudad do México. Nos tempos pré-hispânicos, ela foi uma ilhota do lago de Texcoco, chamada Tepepolco, e Moctezuma Xocoyotzin, imperador asteca, a usava como local de descanso. No entanto, na época colonial mudou de nome. Em 1521, durante o cerco de Tenochtitlán, Hernán Cortés, conquistador espanhol, instalou sua sede ali, antes de seguir para Coyoacán, e o local recebeu o nome de Peñón del Marqués. Esse peñón marcava o limite urbano da Cidade do México, mas, na década de 1970, formou parte da área urbana e atualmente se chama Cerro del Peñón Viejo.

As tramas urbanas da Cidade do México são tecidas unindo passado e presente com movimentos citadinos. As trajetórias que partem da estação Peñón Viejo formam movimentos que fazem-cidade (AGIER, 2015) e constroem cartografias por meio do metrô na cidade. São milhares de pessoas que atribuem sentidos à urbe, onde, para cada indivíduo, existe “uma cidade que é uma paisagem urbanizada de seus sentimentos” (MONTERO, 1972, p. 71). Nesse sentido, conforme Néstor García Canclini (2008), as cidades não existem apenas como ocupações de um território, com a construção de edifícios e de interações materiais entre seus habitantes, mas se formam, sobretudo as megalópoles, pela tensão entre o que são e o que queremos que elas sejam.

Este ensaio fotográfico apresenta fragmentos das minhas trajetórias cotidianas por meio do metrô, na Cidade do México, a partir da estação Peñón Viejo. A fotografia foi utilizada como forma de fazer antropologia, visto que o fotografar nos ensina a sermos vigilantes e a cultivar uma observação paciente, a criar estratégias de aproximação com o objeto, é uma técnica na qual a câmara possui uma dupla capacidade de subjetivar e objetivar a realidade (LEAL, 1986 apud ACHUTTI, 1997). Assim, nestes registros, busquei capturar um pouco das dinâmicas que envolvem andar de metrô: a espera, a chegada e a partida.

A estação Peñón Viejo e as trajetórias que desenham a Cidade do México
Gabriela Pecantet Siqueira
gabrielapecantet@gmail.com
é mestranda em Sociologia, bacharela em Direito e graduanda em Antropologia pela Universidade Federal de Pelotas. Bolsista CAPES.