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A trilha de caminhos tortos e modestos para uma cidade “aberta”
Por Pedro Paulo Machado Bastos
Lançada em agosto de 2018 no Brasil, a mais nova obra do prestigiado sociólogo estadunidense Richard Sennett intitulada “Construir e habitar: ética para uma cidade aberta” [do original em inglês Building and Dwelling: ethics for the city] é o último livro de uma trilogia na qual o autor se dedicou a estudar o Homo Faber em diferentes interfaces. Aqui, esse Homo Faber se refere àquele indivíduo que produz o mundo através do seu trabalho numa associação íntima à perspectiva de Hannah Arendt, que, inclusive, foi professora de Sennett em tempos passados. No contexto da vida urbana à qual se debruça, o Homo Faber produz materialmente a cidade da mesma maneira que esta é reproduzida pela maneira como os seus pares a transformam e a ressignificam através da socialização. Daí a separação categórica e importante que emprega para compartimentar suas reflexões já reforçadas no título da obra: “construir” e “habitar” são pontos distintos, mas ampla e intimamente relacionados em prol de uma boa vida urbana.
A esse “construir” e “habitar”, Sennett se apropria da genealogia conceitual de ville e cité, respectivamente, para analisar de que maneira o desenho urbano influencia as nossas relações sociais cotidianas. Em outras palavras, questiona em que medida a ville, como sinônimo grosseiro de cidade em sua abrangência – na relação do seu ambiente construído com a malha viária que permite a nós circular por e entre esses blocos de concreto –, consegue combinar-se harmoniosamente com a cité, tratada como o modo de vida em um determinado lugar.