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Grande mídia versus coletivos midiativistas: a disputa de narrativas
Por Arthur Bezerra
Além de ser o ano que encarna a distopia futurista de George Orwell, tão comentada nos atuais tempos de vigilância e controle do Estado sobre seus cidadãos, 1984 marca também a emergência de grupos de discussão e comunidades hackers em torno de práticas de ativismo midiático, fenômeno conhecido como midialivrismo ou midiativismo. Segundo Fábio Malini e Henrique Antoun, autores do recente livro “@ internet e # rua – ciberativismo e mobilização nas redes sociais”, o midialivrista é o hacker das narrativas, ou seja, é alguém que “produz, continuamente, narrativas sobre acontecimentos sociais que destoam das visões editadas pelos jornais, canais de TV e emissoras de rádio de grandes conglomerados de comunicação”. O movimento midialivrista vale-se do uso das novas tecnologias de informação e comunicação e da estrutura rizomática das redes digitais para comunicar-se diretamente com “a massa”, evitando hierarquias que reproduzam a velha lógica um-todos que dominou a comunicação da grande indústria da informação no século XX.
Os movimentos sociais que levaram milhares (em alguns casos milhões) às ruas da Islândia em 2009, da Tunísia, do Egito, da Espanha, da Inglaterra e dos Estados Unidos em 2011 e do Brasil em 2013 caracterizam-se por um amplo uso das plataformas digitais de comunicação. Conforme aponta Manuel Castells em seu livro “Redes de indignação e esperança: movimentos sociais na era da internet”, manifestações e atos de protesto nos países citados foram marcados pelo Facebook, atualizações das ações em tempo real se deram através do Twitter, e vídeos da repressão policial foram postados no YouTube. Embora essas plataformas digitais pertençam a grandes empresas da internet, fator que gerou críticas dos grupos que se propõem abertos e horizontais, seu uso por manifestantes e midialivristas e seu papel na difusão dos movimentos não pode ser menosprezado.